31/10/2012

Halloween: dançando sobre o caixão do diabo


por Rev. William M. Cwirla 

O Halloween se tornou um feriado comercial importante nos Estados Unidos, o segundo em potencial de lucro, perdendo apenas para o Natal. Uma família americana normal já gasta mais de 100 dólares cada ano em truques, doces e decorações assustadoras.

O que nós cristãos temos a ver com o Halloween? É diversão inocente ou algo a ser evitado?

História

Halloween é a abreviatura de All Hallows Eve [Véspera de Todos os Santos], ou seja, a noite antes do Dia de Todos os Santos, um dia sagrado cristão no qual os crentes honravam os santos (hallowed), os heróis e mártires da fé. Para os luteranos, All Hallows Eve é também o Dia da Reforma, o dia em que Martinho Lutero afixou suas 95 Teses para debate na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg.

Na Idade Média, as pessoas tinham uma profunda sensação do demoníaco. Basta pensar no hino da Reforma de Lutero, o “Castelo Forte”: “O mundo venham assaltar demônios mil, furiosos, jamais nos podem assombrar”. As pessoas acreditavam que os demônios estavam em atividade especialmente na véspera de Todos os Santos. As pessoas esculpiam abóboras com caras feias e as colocavam fora de casa para protegê-las. Isso é parecido com a prática de esculpir gárgulas grotescas sobre as calhas de drenagem das catedrais para afastar demônios. As pessoas desfilavam nas ruas vestidas com fantasias e máscaras para atrapalhar os demônios e confundir seus planos.

O dia sagrado de Todos os Santos quase desapareceu, especialmente no cristianismo protestante, que mal reconhece os santos e muito menos os honram. A cultura popular grudou no All Hallows Eve e o transformou em mais um artifício de ganhar dinheiro. A maior parte da diversão é inocente, se bem que ruim para os dentes. Crianças se vestem de Power Rangers, bailarinas e Bob Esponja e se fartam com os doces que pediram aos vizinhos mediante permissão especial dos pais e dentistas.

No entanto, existe um lado mais sombrio e sinistro do Halloween. Grupos satânicos e pagãos fizeram do Halloween seu próprio “grande dia sagrado”. Os protetores de animais alertam os donos de gatos pretos para mantê-los dentro de casa para que eles não sejam prejudicados. Uma noite que já foi de confronto com o diabo se tornou uma celebração de todas as coisas diabólicas. A velha natureza sempre prefere as trevas à Luz.

Convém aos cristãos participar? A resposta mais fácil poderia ser um simples e profundo “não”. Mas toda estrada tem dois lados, e o Halloween não é exceção.

De um lado

Há o perigo de tomar a morte e o diabo com muita leviandade. Não se engane: O diabo é real. Ele não é um cara vermelho com uma cauda pontuda e um tridente. Ele é um mentiroso, o pai da mentira e um assassino. Ele se disfarça de anjo de luz, parecendo ser muito religioso, a fim de enganar as pessoas e chamar a sua atenção para longe de Jesus Cristo (2 Co 11.14).

Um crente batizado pertence inteiramente ao Senhor e não tem comunhão com o diabo e seus demônios. Então, quando os cristãos tomam parte no lado sombrio do Halloween, podem criar a falsa impressão de que a morte e o diabo não são um negócio sério, ou que não há problema em os cristãos tomarem uma refeição com o diabo de vez em quando, contanto que suas colheres sejam longas o suficiente. Nenhum cristão fiel, que leva a sério o pecado, a morte e o diabo, iria querer alguma coisa com isso.

Do outro lado

Há o perigo de levar o diabo muito a sério. Ao contrário do que alguns parecem acreditar, o diabo não é todo-poderoso, onisciente, onipotente, ou presente em toda parte. Ele é um anjo caído, uma criatura de Deus que se voltou contra o seu Criador. Ele está preso e derrotado pela morte e ressurreição de Jesus. Ele é um mentiroso e um perdedor, e sua única esperança, com o pouco tempo que lhe resta, é convencer o mundo de que a morte de Jesus na cruz não é suficiente para nos salvar.

Jesus Cristo venceu a morte por todas as pessoas, de uma vez por todas. Ele derrotou o diabo através da sua morte na cruz. Podemos viver em confiança, libertos do medo da morte e do diabo, sabendo que Deus está em paz conosco na morte de Jesus, que Jesus ressuscitou dentre os mortos e que nós também seremos ressuscitados. Cristo venceu. O diabo está derrotado. “Julgado ele está; vencido cairá” [Das macht, er ist gericht’t].

O caminho do meio

Jesus não pendeu em uma cruz para que seus cristãos saíssem por aí com um olhar severo em seus rostos, julgando todos à sua volta. Quando cristãos se tornam excessivamente críticos do Halloween, podem criar a falsa impressão de que Jesus não reina desde já sobre todas as coisas, incluindo o diabo, que Ele não venceu a morte através da sua morte e ressurreição ou que o diabo deve ser mais temido do que Deus.

Um pietismo azedo por parte dos cristãos confirma a noção equivocada que o mundo tem de que o cristianismo não é nada mais do que uma religião de regras controlado por babás moralistas que querem acabar com a diversão em tudo. Martinho Lutero nos lembrou que precisamos humilhar o diabo sempre que tivermos chance [WA 18:277.35]. Lutero fez isto muitas vezes de maneiras bastante pitorescas. O Halloween certamente proporciona a oportunidade para zombar do "velho inimigo maligno" [Der alt’ böse Feind].

Tendo definido os dois lados, vamos voltar à questão que começou toda esta discussão. Convém aos cristãos participar do Halloween? Tudo depende. É claro que não imagino crentes batizados em Jesus Cristo dançando na floresta em volta de fogueiras enquanto cantam orações pagãs para a deusa mãe ou sacrificando gatos pretos, não obstante todo o liberalismo ecumênico. Por outro lado, a principal tarefa do diabo é nos afastar da morte e ressurreição de Cristo e nos fazer focar em nossas próprias obras, orações e piedade. Ele parece estar se saindo muito bem dentro do mega-cristianismo. Pra falar de uma maneira geral, toda a bobagem cultural associada com o Halloween tem tanto a ver com o diabo quanto o Natal hoje tem a ver com a encarnação do Filho de Deus.

Como vamos decidir? 

O amor ao próximo e a preocupação pela sua salvação deve fazer-nos refletir algumas questões. O que seu próximo, sua família, seus filhos, seu irmão ou irmã em Cristo pensam da sua festa do Halloween? Isso vai ajudar ou atrapalhar a fé deles em Jesus? Será que seu divertimento no Halloween testemunha a vitória e a liberdade que Jesus conquistou com sua morte e a ressurreição, ou ela exalta os poderes das trevas e morte? Será que dá atenção de forma indevida às coisas sombrias e demoníacas, ou zomba dessas coisas que já foram derrotadas? Você é capaz de falar francamente com seus filhos sobre a realidade da morte e do diabo e contar a eles sobre vitória de Jesus?

A liberdade em Cristo é sempre temperada pelo amor ao próximo. Você é completamente livre em Jesus para servir o seu próximo em amor (Rm 14.1-23).

Você deve decidir por si mesmo como e até que ponto você e sua família participarão em festas de Halloween. O contexto é importante. Pode variar de acordo com a experiência local. O melhor conselho que posso dar é humilhar o diabo, honrar a Cristo e tirar aquele olhar severo de seu rosto. Lembre-se de quem você é através do Santo Batismo: um sacerdote batizado no sacerdócio santo de Cristo “a fim de proclamar as virtudes daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1 Pedro 2.9 NAA).
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Sobre o Autor: Rev. William M. Cwirla é pastor da Holy Trinity Lutheran Church, em Hacienda Heights, Califórnia 

Outubro de 2010 

William Cwirla

Tradução do artigo foi publicado originalmente na revista The Lutheran Witness - Oct 2010, Vol.129 #10.

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