21/07/2014

Prefácio de Lutero ao Profeta Ezequiel (1545)


     Assim como Daniel e outros mais, Ezequiel foi levado de livre vontade junto com o rei Joaquim para o cativeiro na Babilônia conforme o conselho de Jeremias. Este último sempre aconselhava que deviam se render ao rei da Babilônia para que vivessem, e que não deviam resistir, pois do contrário seriam destruídos (Jeremias, capítulo 21[.8s.]).
     Visto que agora já tinham chegado à Babilônia - como indica Jeremias, no capítulo 24[.1ss], consolando-os amigavelmente -, eles começaram a ficar impacientes e se arrependeram sobremaneira de se haver rendido. Pois eles viram que aqueles que tinham ficado em Jerusalém e não tinham se rendido ainda possuíam a cidade e tudo o mais, e que tinham a esperança de fazer Jeremias passar por mentiroso, de defender-se bem diante do rei da Babilônia e de permanecer na terra.
     Para tanto, certamente, contribuíam os falsos profetas que sempre consolavam bastante em Jerusalém, dizendo que Jerusalém não viria a ser conquistada, e que Jeremias devia estar mentindo como um herege e uma pessoa infiel. Junto com isso deu-se o fato (como costuma suceder) que os que estavam em Jerusalém se jactavam de apegar-se firme e honestamente a Deus e à Pátria, dizendo que os outros tinham se entregado e abandonado a Deus junto com a Pátria, como os infiéis e traidores que não podiam confiar nem esperar em Deus, mas que se jogaram ao encontro de seus inimigos por causa da conversa fiada de Jeremias, o mentiroso, etc. Isso feria e enfurecia bastante aqueles que tinham se rendido à Babilônia e, agora, seu cativeiro pesava o dobro. Ó quantas e quão extremas maldições não devem ter desejado para Jeremias a quem tinham seguido, mas que os havia desnorteado tão miseravelmente!
     Por essa razão, Deus desperta agora, na Babilônia, este profeta Ezequiel, para consolar os cativos e profetizar contra os falsos profetas de Jerusalém, confirmando a palavra de Jeremias. Isso ele também faz de modo leal, e profetiza bem mais dura e copiosamente acerca da maneira como Jerusalém será destruída e o povo morto junto com seus reis e príncipes. E, não obstante, ele promete, em meio a isso, o retomo e a volta para a terra de Judá. E esse é o assunto mais importante em Ezequiel, que ele tratou em sua época e sobre o qual ele discorre até o capítulo 25.
     Após isso, até o capítulo 34, ele estende sua profecia também a todos os outros países circundantes que seriam atormentados pelo rei da Babilônia. Seguem-se, então, quatro excelentes capítulos sobre o Espírito e o Reino de Cristo. Depois, ele fala do último tirano no Reino de Cristo, Gogue e Magogue. E, finalmente, ele reconstrói Jerusalém e, com isso, consola as pessoas do povo de que voltarão novamente para casa. No espírito, porém, ele se refere à cidade eterna, a Jerusalém celestial de que também fala o Apocalipse.

-- Bem-aventurado Martinho Lutero (1483-1546), doutor e reformador da igreja (Prefácio ao Profeta Ezequiel (Vorrede auff den Propheten Hesekiel, WA DB 11/I,393). Tradução de Luís H. Dreher nas Obras Selecionadas de Lutero, Volume 8 (São Leopoldo: Sinodal; Porto Alegre: Concórdia, 2003. p. 53-54).

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