31/10/2016

Halloween: participação obrigatória?


Mesmo luteranos, que não tem muito problema com o Halloween, podem se deparar com a deturpação da festividade e das brincadeiras quando a temática é abordada em escolas seculares. E, assim como podemos ser evangélicos e sensatos com quem gosta de brincar no Halloween e o entende como uma cultura surgida dentro de um contexto cristão (já apresentamos esta possibilidade em artigos anteriores postados aqui no blog), também devemos, dentro da liberdade cristã, respeitar quem não gosta e não vê algo divertido e agregador nesta festa, especialmente quando se ultrapassa o limite do bom senso.  É o que aborda a procuradora federal (PRF4) Rosângela Fernandes da Silveira John em artigo publicado no Zero Hora, que transcrevemos abaixo.

Artigo: Halloween: participação obrigatória?

Por: Rosângela Fernandes da Silveira John, Procuradora federal
31/10/2009 - 03h20min

No Brasil, até há pouco tempo, 31 de outubro era uma data qualquer, já que não encontra qualquer referência com nossa cultura. Mas isso mudou. Hoje em dia é comemorado o Halloween ou o Dia das Bruxas. Algumas escolas comemoram inserindo o tema nas próprias atividades didáticas. Alunos devem desenhar/criar seres imaginários do mal de toda espécie: bruxas, diabos, fantasmas, vampiros, monstros. Até mesmo o Jason Voorhees – Sexta-Feira 13 – pode ser lembrado e homenageado. São realizados até desfiles com concurso de fantasias. Todos têm que gostar. É um atropelo, mães correndo atrás de fantasias (e quem não pode comprar?) em busca do mais horrendo. O mais horrendo ganha o concurso.

Dá para parar e pensar se gostamos de Halloween? Temos o direito de não gostar?

O simbolismo da data, além de bruxas, envolve demônios, fantasmas, morte, trevas, esqueletos, medo e terror.

Festejar isso na escola é certo? Agrega? Como funciona na cabeça das crianças?

Fala-se muito em ser “do bem”. Entretanto, aparece na festa da escola até o Jason Voorhees, brutal assassino da série Sexta-Feira 13, que elimina jovens com requintes de crueldade (sim, é permitido participar das festividades fantasiado de Jason). E o Jason pode ganhar o concurso de melhor fantasia com sua faca machete suja de sangue!

Não se trata aqui de questionar preferências ou gosto por filme de terror. Trata-se de refletir sobre a capacidade infantil de discernir o que é do bem do que é do mal. Como esta ficção contribui para a formação da personalidade do cidadão que queremos para o futuro?

Pode-se pensar em algo mais concreto: e a criança que nitidamente expressa pavor, tem pesadelos, chora de medo ou simplesmente se permite não gostar de tais seres e símbolos? Ela tem esse direito? Ou ela é obrigada a gostar e a participar das atividades? Na hipótese de não participar, como ela vai resolver o constrangimento de explicar a cada professor e a cada colega por que não gosta de Halloween??!!

Ao decidir onde matricular seu filho, os pais levam em conta vários fatores, entre eles a linha religiosa adotada pela escola. Porém, a partir da última quinzena do mês de outubro, sem escolha, os pais podem ser surpreendidos pela obrigatória comemoração do Halloween, na qual a participação do filho é, inclusive, avaliada.

Estamos diante da imposição de costumes “importados”, com objetivos principalmente comerciais, que são “engolidos” sem qualquer reflexão.

É comum ouvir: “É só uma brincadeira, é um trabalho lúdico. As crianças adoram. Não tem conotação religiosa”.

Ao contrário dessa afirmação, em síntese podemos afirmar que as comemorações do Halloween remontam crenças e rituais celtas, professados pelos druidas, membros de um culto sacerdotal pagão na antiga França, Inglaterra e Irlanda. Ainda hoje, em todo o mundo existem adeptos e seguidores dessas crenças e rituais como religião.

Assim, o Halloween tem cunho religioso, e o fato de as escolas adotarem como data comemorativa atenta contra um dos mais elementares princípios constitucionais: o direito fundamental de liberdade de crença, assegurado pelo artigo 5º, incisos VI e VIII, da Constituição Federal.

A Constituição assegurou o direito dos pais de liberdade de crença que lhes permite festejar ou não o Dia das Bruxas. E a criança pode ter e expressar seu medo sem ser obrigada a gostar de bruxas, demônios, fantasmas, esqueletos. Pode, ainda, simplesmente não gostar sem explicar por que, tampouco pode ser constrangida por isso. É livre para gostar ou não gostar. O Halloween, enfim, não faz e não pode fazer parte do currículo escolar.

É de todo recomendável, pois, que escolas e educadores repensem o assunto hoje.

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